quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Estenio Potier, bandido das antigas!

Num dos posts antigos havia comentado sobre meu avô, além de um grande avô era um homem que gostava muito de carro e de acelerar. Acho que todos aqui que lêem tem essa gotinha de sangue vinda de algum lugar. Baseado nisso decidi que era mais do que merecido presentear os leitores com uma relação familiar mais próxima, tipo a de pai pra filho. Neste caso pensando nas antigas e nos nossos muscle veio direto na mente dos doentes por opala, Sr. Estenio Potier (pai) e Sr. Evandro Potier (filho). Sigo meu pensamento de educar meus filhos no sistema correto dos carros, aceleramento e todos estes critérios, entendendo o básico de mecânica, gostando de graxa e cheiro de pneu queimado.
A história a seguir conta sobre a vida desse pai e filho, ambos sempre cruzando seus destinos com opalas, oficinas e principalmente, um belo relacionamento.

Leiam, comentem e principalmente, se espelhem nesse tipo de pessoas.

Abraço

Rodrigo "Pivas" Pulita

Com a palavra Sr. Evandro Potier:

"A pedido do meu amigo Rodrigo “Pivas” Pulita, venho humildemente tecer algumas palavras e lembranças para endossar a filosofia que tanto ele expõe neste blog – o lado bandido e ordinário do gosto por veículos antigos de alto desempenho.



As palavras que vou expor vão remeter a lembranças de minha infância e justificam as minhas origens e formação técnica que escolhi para atuar profissionalmente nos dias de hoje.


Resumidamente venho de uma família tradicional em Curitiba-PR, onde o meu avô e alguns irmãos dele, em meados de 1940, abriram uma empresa pioneira em desenvolvimento de usinagem e recondicionamento de motores de veículos. Esta empresa chamava-se Irmãos Potier Ltda.


No inicio, não se dispunha de peças de reposição para a recuperação mecânica dos conjuntos motrizes daqueles veículos importados, aqui no Brasil. As soluções adotadas eram basicamente as usinagens tradicionais e enchimento dos colos desgastados (colos fixos e móveis de eixos virabrequins, colos fixos de comandos de válvulas, colos fixos de bielas) e a adoção de capas fundidas artesanalmente em antimônio / cobre para fazer o papel de material de anti-fricção, material este que conhecemos hoje como casquilhos ou bronzinas. Estas capas eram fundidas em moldes “caseiros” e alojadas nos colos, recebendo um processo de desbaste através de rasquete e posterior mandrilamento para adquirir as dimensões para conservação das folgas especificadas. Além disso, executava-se a usinagem de cilindros com reaproveitamento/adaptação de anéis de segmentos e recuperação de cabeçotes com soldas e adaptação de peças torneadas à mão.


Hoje, tento imaginar o “frisson” que era a empresa deles, em virtude de ninguém mais ter o respectivo “know-how” de como executar estes serviços na região naquela época.


Com o passar do tempo, o meu pai - Estenio Potier, um dos filhos do meu avô, assumiu os negócios no inicio dos anos 60 e fez a empresa crescer muito. Foi amplamente ajudado pela abertura de algumas empresas de fabricação de kit´s para a recuperação dos motores no Brasil, abriu uma loja de auto-peças que se tornou referencia na região, homologou a empresa para usinagem de motores aeronáuticos, montou cela de teste de motores, etc. Contava com cerca de 40 funcionários e grandes Clientes espalhados entre SP, PR e SC.


Meu pai também tinha uma fama de piloto de carros de circuito, fazia isso como hobby, e teve diversos carros preparados que fazia demonstrações bandidas na rua e estrada. Carros modificados com recursos disponíveis na época e que apresentavam patrocínio da Retifica Potier, como este Opala da foto, que tem várias histórias de ser um vencedor contra os tradicionais concorrentes da época.


Notem os pneus letrados, as luvas nas mãos e o lindo opala que denuncia a vontade de acelerar.
  No inicio dos anos 80, eu com cerca de 8 a 9 anos de idade, fazia viagens freqüentes com ele para entregar e buscar motores na região e tinha uma simpatia por Opalas 4100 antigos, principalmente os pré-75, de preferência sedans em cores sólidas. Vi muito destes carros em elevadores, com motores sendo refeitos e ficava louco quando via o emblema 4100 pendurado no pára-lama dianteiro. Lembro-me muito bem de Opalas e Caravans que ele teve com motores melhorados que eram o terror em “apresentações” na rua, levavam as pessoas ao perigo, burnouts no meio do transito, coisas totalmente fora do normal, mesmo naquela época.



Eu tomei gosto pela coisa, tanto que em 95 comprei meu primeiro sedan Opala, um 1969, originalmente 3800 com cambio 3m na coluna. Busquei este carro aqui em Curitiba mesmo, naquela época já era raro de se achar. Estava jogado na parte de trás de uma casa que havia sido reformada e ele estava cheio de cimento e restos de construção na pintura.
Cheguei a casa com este carro, após uma limpeza técnica em um lava-car de um amigo. Inicialmente vi que o meu pai não gostou talvez pelo receio de saber que eu estava no mesmo caminho que ele tinha trilhado.

Depois de um tempo, fiz um novo motor, um 4200cc com eixo de 3800 com pistões 4”, ainda à gasolina com comando 288 e uma DFV 446 com escapes dimensionados. O carro ficou muito bom, mas os pistões ficaram baixos e não estava com uma taxa de compressão adequada, além de que ficou um ruído no par de engrenagens do comando e vira que não casou legal. Desmanchei este motor com pouca km, e comprei um eixo 4100, rebaixei 6mm no bloco e com novos pistões 4” consegui quase 15:1 de taxa, modulo 6AL da MSD, o mesmo 446, mas com borboletas 39mm e um cabeçotinho bacana com alojamento para retentores de válvula de verdade, guias de válvulas com camisas K-Line de cobre, comando Crower 282/287 novo. Ficou um motor bem rápido e pegador, já que tinha muflado à admissão para ajudar no frio de Curitiba. Neste pack entrou uma caixa Clark 4m e um Dana 30 3,54:1. Era um carro com um ronco maravilhoso, pois matei o escape embaixo do banco traseiro, antes do diferencial.
  
Com este carro fiquei bem conhecido na região, pois era raro e muito bonito de se ver, pois fiz a restauração completa da lata com pintura em PU na cor original (verde-antigo) e tinha umas rodas 17”, com suspensão baixa. Fiquei 11 anos com este carro e tive que me desfazer em 2005, após casar e ter o primeiro filho. 
Certa vez, chamei-o para andar comigo, ele sentou no sofá da frente, liguei a bomba elétrica e dei a partida no monstro. Segurei perto de 2K RPM, aquele falhadeira maravilhosa de comando bandido, o velho só me olhava, naquela névoa de vapor de álcool. Dei um alimpada, debreei, segurei com a canhota no freio e fiquei lixando parado na frente de casa, dando 1,2,3,4 paradinho e entortando a traseira para ficar à 45⁰ na rua, triscando no acelerador, tipo arrancada. Olhei pro velho, aquele sorriso de piá bandido ao estava na cara dele. Não me esquecerei jamais disso. Demos uns paus na rua, sei que aquela tarde foi especial para aquele cara!!


Resumidamente o meu pai é um grande herói na minha vida, pelo seu jeito sério e objetivo de fazer as coisas e pelos valores corretos que me passou, não poupando esforços para me dar uma excelente formação educacional. Sinto uma enorme empatia com o Véio Potier, na forma bandida de resolver os problemas, não vendo dificuldade onde os outros pelejam. Esta habilidade de resolver problemas é o meu diferencial profissional nos dias de hoje. Não atuo mais diretamente com motores e sim com empresa sistemista para montadoras automotivas e educação para ensino técnico, mas o grande legado do cara.


Fica o meu agradecimento publico a esta grande figura, que já passou por varias cirurgias cardíaca e está cada vez melhor, por todo o conhecimento passado e pela amizade paterna que cultuamos um em relação ao outro.


Abração Pivas, espero que tenha gostado do relato."

Evandro Potier
evandro.potier@gmail.com
06/10/10.

4 comentários:

  1. Parabéns Família Potier!

    Como já diz o ditado "A fruta não cai longe do pé.":
    A história é sensacional, dividir com o próprio pai o gosto pela preparação é extraordinário.

    Divido com meu pai o gosto pela velocidade, já a parte de alterações ele não é favorável...
    Mesmo assim já nos divertimos em estrada aberta.

    Abraços

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  2. Excelente post, acho interessante que aqui sempre temos essa relação de família levada em consideração... De onde vem esse gosto por carro. As raízes de cada um.

    Compartilho o gosto pelos antigos, a história, a forma de guiar, as características de cada veículo com meu velho. Ele tem aquele sonho de sempre deixar os carros com os acessórios de como era na época, old school. Acho legal isso, e cada vez mais me afasto dos "rodas 19 e xenon" da moda e migro para os "pneus pin strips e faróis Cibié Serra II amarelos".

    Fiquei imaginando a cara do 'Sir Potier' ao ver o Evandro borrachando com felicidade o Opala... Coisas de família.

    abraço
    GiovanniF

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  3. Interessante como os velhos (pais) que tem o sangue bandido, quando seus filhos começam a peguar o mesmo rumo são sempre meio com o "pé atras", mas depois de um tempo vão vendo a coisa acontecer e já se acustumam!
    abraço!

    Christian

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